terça-feira, 28 de maio de 2013

Evitando a fadiga

Nunca pensei tanto em meu trabalho de cantora como tenho feito de uns meses para cá. Ando fazendo balanços e retrospectivas, pensando nas situações que vivi. Muitas, felizes. Outras, nem tanto. 

Graças às situações desagradáveis, cheguei a uma importante conclusão (um tanto quanto óbvia): preciso ser minha maior protetora. 


E a partir desta conclusão percebi  (não foi a primeira vez, mas espero desta vez usar esta percepção de forma útil) que o "não" é uma das armas mais poderosas à minha disposição. Ele irá me poupar de muita dor de cabeça e frustração.

Mas só eu posso saber quando tenho que usá-lo. E ninguém pode pronunciá-lo por mim.

Assim como só eu poderei responder quando me perguntarem por que toquei naquele lugar tão tosco daquela vez. Aliás, vale muito mais a pena dizer "não" a um lugar tosco do que aguentar uma pergunta desconcertante como essa, depois... 

Pensando nisso tudo, percebi que ninguém irá defender o que faço e o que acredito como eu. Ninguém entenderá por que não faz mais sentido para mim cantar aquela (linda, sem dúvidas) música do Caymmi que já cantei 200 vezes. Ninguém entenderá o que sinto quando canto aquela música do Caymmi pela 201a vez. Só eu sei o quanto é importante para mim cantar outras músicas. Só eu saberei se me sinto ou não vendida cantando essa ou aquela música, se é sacrificante ou não tocar naquele lugar.

Creio que ainda receberei muitas propostas de trabalho nada interessantes. E o que de melhor posso fazer por mim é dizer um "não". Afinal, sou EU quem ficará chateada o final de semana todo por causa de um show "meia bomba". EU me sentirei exposta de uma forma ruim. Ninguém tem a obrigação de me conhecer intimamente - mas eu tenho.

Muitas das vezes - e essa é uma certeza absoluta, para mim - é melhor ficar em casa fazendo minhas traduções e produzindo mais dinheiro para que eu possa investir em gravações, em figurino. Ou ficar em casa fazendo a produção do meu trabalho. Não, não vou ser "esquecida" se parar de cantar naquele boteco. Lá não sou nem lembrada, quanto mais esquecida. Não, não sou apenas uma cantora de covers, sem nenhum trabalho inédito para mostrar. Tenho o privilégio de ter amigos compositores da melhor qualidade. Tenho a sorte deles gostarem do meu trabalho e me mostrarem suas canções maravilhosas em primeira mão.

Tudo o que vivi até agora (desde minha banda de rock, passando pelos shows na noite - restaurantes, barzinhos, praças) serviu para me encher de experiências, me deixar mais à vontade comigo, me entender melhor, conhecer mais minha voz, aprender a cantar inúmeras músicas, ver belas cenas na plateia (pessoas emocionadas), ouvir pessoas dizendo coisas incríveis sobre o meu jeito de cantar. Mas serviu principalmente para que eu tivesse certeza do que queria e do que não queria. Hoje, tenho certeza que não quero mais fazer nada "mais ou menos". Quero coisas muito bem feitas e bem planejadas, sempre que possível. Ou até um pouco improvisadas (pois às vezes esses são os momentos mais mágicos e incríveis), mas da melhor qualidade. Meu foco deve ser: apenas o melhor! Não posso ficar preocupada se isso parece pedantismo ou arrogância, pois para mim isso nada mais é do que se dar valor. Levar a sério o próprio trabalho. Garantir a longevidade deste, evitando decepções e desânimos, tão comuns nas carreiras artísticas. Por isso, é fundamental evitar o máximo de contrariedades. “Evitar a fadiga”, como lembrou o Dani Medeiros outro dia. Se tenho uma carreira solo, se não faço parte de uma banda e a maior parte da responsabilidade deste trabalho (cuidar da logística, das finanças etc.) é minha, ao lado do meu produtor, então é claro, é evidente que as escolhas importantes também devem ser minhas. Não faz sentido não me respeitar inteiramente.

Mas se essa minha atitude (internalizada há alguns meses e finalmente exposta com todas as letras), mesmo assim parecer pedantismo ou arrogância, bem, só posso me resignar e lembrar que não tenho o poder de controlar a interpretação de outrem. E se isso servir para evitar que propostas ruins cheguem até mim... Pode ser até algo positivo.

Não canto há 20, 30 anos, como tantos cantores por aí na noite, mas considero que já ralei bastante. E quero continuar "ralando", pois amo trabalhar, mas sem sofrimentos e desgastes desnecessários. Quero cantar sempre, até quando eu puder. O máximo de tempo que me for permitido. Passando por diversas situações incríveis, fortes, intensas. Como deve ser, mesmo. Mas com o maior prazer possível.

E ninguém melhor do que eu para saber o que me realiza, o que me alegra, o que mais me motiva.

Ninguém melhor do que eu para ser minha maior guardiã.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Coincidências ou o princípio da inércia


A vida adora movimento.

Após três meses de inércia nas gravações do meu disco, resolvi agir e gravar duas músicas para colocar na web, totalmente independentes do CD. Divulgar pelo MySpace, Facebook, por este blog, pelo site. E foi só fazer isso, foi só me mexer e tomar as rédeas da minha vida (analisando bem, eu estava papando mosca, mesmo que achasse que não: não estava movendo uma palha por mim, tendo a desculpa da pausa nas gravações) que fiquei sabendo que semana que vem começarei a gravar as vozes do disco. Incrível, não é? Achei que ficaria mais um mês, no mínimo, sem poder trabalhar nele. Foi só sair da pasmaceira, e pronto: tudo quis agir de uma só vez, as coisas todas ficaram ansiosas ao mesmo tempo. Que bom! Agora já sei. É só tocar para frente, é só puxar o bonde que tudo acontece. Todo o resto que está na pasmaceira vem também, a reboque.

Aliás, ontem foi um dia muito especial em relação a movimento: recebi aqui em casa o incrível Mauro Aguiar, que me mostrou suas pérolas e me deixou com a difícil (e deliciosa) missão de escolher apenas uma entre tantas canções "escabrosas". Além de ter sido um encontro agradabilíssimo (que ainda por cima serviu para desanuviar a mente e me ajudar a esquecer dos problemas - Mauro, que graça de pessoa! Só tenho a agradecer pela honra da visita, pelas risadas e pelas LETRAS!). Saí de casa feliz, como ficamos quando ouvimos música boa, sabe como é? Sabe, sim: é o contrário da forma como nos sentimos quando ouvimos música ruim. Mas então, retomando, saí de casa sorrindo de orelha a orelha e fui encontrar outro fera, o Walter Fernandes, grande compositor do Estácio. Como eu disse no início, a vida adora movimento, e quando um compositor pôde se encontrar comigo, o outro também. No mesmo dia. Com o Walter as coisas foram bem rápidas; agora é só esperar que ele me envie a canção por e-mail para começar a pensar em como eu quero que esta fique. Eta trabalhinho gostoso!

É isso. Agora estou cheia de coisas para fazer, pensar, planejar e preparar: escolher uma canção do Mauro; colocar a canção dele e a do Walter na partitura; agilizar a busca por um bom estúdio para gravá-las; treinar as duas canções cujas vozes gravarei semana que vem etcetera e etcetera.

Mas, em vez de me sentir tensa ou preocupada, sinto que, agora sim, tudo está voltando ao normal. Tudo funcionando ao mesmo tempo, tudo em sincronia.

É a vida afirmando que, realmente, não gosta de inércia.



quarta-feira, 8 de maio de 2013

Canções extras


Em fevereiro deste ano, pouco antes do carnaval, recebi a ligação do produtor do meu CD, Dani Medeiros. Pensei que fosse mais um dos papos que sempre tínhamos: "Guidi, estou ouvindo aqui e acho que na canção X poderíamos fazer isso e isso etc.". Mas não era nada disso. Com toda a tranquilidade, Dani me ligava para dizer que havia sofrido um acidente (sempre ressaltando que estava bem, para que eu não me assustasse), que estava no hospital e que ficaria internado por alguns dias. Fui visitá-lo. Ele realmente estava muito bem, mas precisava ficar um tempo de molho. Este tempo se estendeu por três meses, dada a seriedade do caso (era preciso ficar imóvel, apesar da vontade de trabalhar e seguir a vida normalmente).
Estamos em maio, e eu e ele volta e meia conversamos, por telefone ou e-mail, falando sobre o que falta para o CD terminar (tão pouco!), sobre quem vai gravar essa faixa, quem vai gravar essa outra... E assim estamos indo, tentando aproveitar ao máximo este período de férias forçadas. Férias deste trabalho que nos ocupa desde novembro de 2011 - contando com as primeiríssimas conversas, ainda sem saber quem seria a banda base, sem ter a menor ideia de quem participaria, sem nada -, que tanto nos enche de ansiedade e expectativa. Que já nos rendeu tantos momentos incríveis (e outros nem tanto) no estúdio: papos, crescimentos, amadurecimentos, risadas, parcerias, músicos sensacionais se envolvendo com tanta generosidade. E, claro, muita broinha de milho e mate.
E neste período em que o CD está na geladeira, o que a princípio seria algo ruim - atraso no lançamento, perda do "ritmo" das gravações - serviu para me acenar (e empolgar) com outra possibilidade: a de gravar canções "soltas". Gravar o que eu quiser, e lançar assim, simplesmente. Sem esperar que outras nove canções também fiquem prontas para, aí sim, poder mostrá-las, em um conjunto.
Não pensar em conceito, em unidade. Lançar na internet. Ter o prazer de caçar outras canções e pegá-las para mim, torná-las minhas. Produzir muito, gravar muito. Sem a seriedade de um disco, sem o planejamento que este pede.
Um CD é fundamental para qualquer artista que trabalhe com música, e só vou respirar aliviada quando o meu for lançado. Verei meu primeiro trabalho solo nascer, planejado por mim e pelo Dani com tanto profissionalismo e cuidado. Se isso já me enche de orgulho agora, imagine só quando eu estiver com o meu trabalho nas mãos. Será incrível. E será muito bom também para todos aqueles que colaboraram através do crowdfunding para que este projeto pudesse ser realizado. Todas estas pessoas, tenho certeza, estão à espera, mas educadamente não me pressionam, só me incentivam e dão força. Vou ficar muito feliz por elas, também. Poderei dar a contrapartida. Poderei mostrar que valeu a pena, que o trabalho no qual elas investiram é de qualidade, e que toda esta empreitada foi levada muitíssimo a sério.
Mas já que neste exato momento não posso levar adiante este trabalho, acho interessantíssima a ideia de continuar produzindo, mesmo assim. Continuar trabalhando em outras canções, de outros compositores. É algo que pretendo continuar fazendo, sempre, nunca deixando impune uma música irresistível para mim, uma música que me toque profundamente e que "peça" para ser minha. Gostei? Gravei! Sempre que for possível, é claro!
Desde que fechei o repertório deste meu primeiro trabalho, há quase um ano, fiz uma lista das canções que eu poderia gravar futuramente, em outros CDs. De tempos em tempos aparecia uma canção incrível. Acredito que esta lista já conte com uns trinta títulos.
É hora de começar a riscar, um a um, todos estes itens.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Começando...




Só quis ser cantora em novembro de 2011. Antes, amava cantar. Era cantora sem ser. Era tudo: atriz, tradutora, revisora, um dia, quem sabe, dançarina, e cantava também. Mas não era cantora. Entende?
A cantora, mesmo só surgiu em novembro de 2011, quando, ao lado de um grande artista, um grande produtor e uma grande cantora senti uma vontade verdadeira. E, que novidade: partia de mim, não de terceiros. E nesta data, neste dia, começou um processo de ir expulsando, aos poucos, a atriz, a tradutora, a revisora e a futura dançarina. Essas foram saindo para dar lugar à cantora; essa, que sempre foi a mais preterida de todas.
A atriz sente saudades (quem sabe um dia?), a tradutora e a revisora nem tanto. A dançarina quase não sente mágoa: nunca dei muita moral para ela, mesmo.
Eu sei, a tradutora e a revisora persistem, como ganha-pão, mas as duas sabem muito bem, agora, que não têm a menor chance. Que o negócio é outro. Sem ofensas, não dá para sonhar com um coisa e fazer outra totalmente diferente - e ainda assim ser feliz. É impossível. É lindo trabalhar com letras. Só não é o meu maior sonho. E pode-se querer realizar algum sonho que não seja o maior? Pode-se, desde que se realize o grandão também... Condição sine qua non.

Ué, mas você canta solo desde 2008. Ué, canta em coro desde 2006. Ué... teve uma banda de rock por seis anos! De 2001 a 2007! Eeeeita! Começou a cantar em 2000, aos 16 anos, em sua PRIMEIRA banda de rock! Yuppie Ratt, lembra?
Então que diabos é isso? Você não quis ser cantora só agora, na beira dos 30...

Sim, é exatamente isso. Só agora. Vocalista, não. Coralista, não. Backing vocal? Adoro ser backing de grandes artistas, sim, mas... Em primeiro lugar, CANTORA. Sou, sim. Demorei a assumir, mas é o que sou. E quem sou eu para ter vergonha disso? Quem sou eu para negar a menina de três anos de idade (ou quatro?) que cantava empolgada, segurando um lápis ou qualquer outra coisa que servisse psicologicamente de microfone?
Que coisa feia - e tão lugar-comum - é negar o que se tem. Feio deixar de lado o que se tem de melhor. Feio deixar para lá porque é fácil. Ora, se é fácil... Aperfeiçoe!
Seja perfeita. Estude. Cante. Veja seus vídeos. Produza material. Grave muito, muito e sempre. Só as melhores músicas, as que VOCÊ ama. Estude o cavaquinho. Volte a estudar teoria e percepção. Volte a escrever suas letras. Volte a compor suas canções simples. Comece a querer mudar.
[Continuando a falar em terceira pessoa, já que comecei] Mas nem tudo são críticas: você anda bem mais atenta a seu figurino e à sua maquiagem. Anda cantando melhor que nunca. Parabéns pelas aulas. Parabéns pelo esforço. Você é boa. Só precisa se convencer disso e não torcer para que a vida, "como sempre", te dê uma rasteira e te deixe na mão, só para que você se sinta no direito de reclamar. Só para que você possa ficar confortável em sua situação de vítima, chorando e pensando no tempo que "perdeu" com essa "história de ser cantora".

Se você ama, assuma de uma vez. Mergulhe de cabeça.

Afinal, aquela menina que cantava para a mãe canções inventadas, cujas letras falavam de bolo de chocolate e outras delícias infantis, encheu o saco de ser jogada de lado e quer sua atenção - mesmo que só agora, 26 anos depois.