sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Críticas, sugestões, opiniões



Resolvi fazer aqui uma coletânea de algumas críticas-pérola ouvidas por mim desde que comecei a cantar.
Fui escrevendo as frases que ouvi e foi bem interessante poder refletir novamente sobre estas. Algumas delas foram ouvidas nos intervalos dos shows, outras em conversas com amigos, outras ainda no próprio palco (sim, pode acreditar!), mas o fato é que todas me marcaram, negativa ou positivamente.
Chamo estas críticas de pérolas porque, de fato, muitas me ajudaram a melhorar no aspecto cênico ou técnico; me ajudaram a melhorar como artista. Mas também as chamo de "pérolas" porque muitas delas são engraçadas, ou esquistas, ou "joselitagens" por essência. Por todas estas razões, é certo: vale a pena registrar!

"Guidi, não tape um dos ouvidos quando o retorno estiver baixo, fica parecendo o Chico Anísio fazendo a paródia do repórter" (Hahahah! Nunca mais fiz, depois dessa...)
"Não 'emende' uma música com a outra. Toque uma, dê um tempo, depois toque outra." (Faz sentido; parece que estou com pressa e querendo que a apresentação acabe logo. Obrigada.)
"Aulas de músicas seriam mais importantes para você do que uma aula de canto, na minha opinião." (Pode ser.)
"Canta samba? Então vá na feijoada da Mangueira, vá nos redutos, vá conhecer o samba de raiz." (Mesmo que eu não queira ser uma cantora de samba, esse conselho é muito válido, pois vez ou outra irei cantar alguns.)
"Te criticaram lá no Mercadinho São José porque você não cantou aquela música olhando para a pessoa que fez o pedido da música. Disseram que você é metida." (Quem é pior: o cliente/bebê chorão ou aquele que passa uma desinformação destas?)
"Olhe mais para o público, você às vezes fica de costas por um bom tempo." (Ok. Nesse caso são se trata de olhar para um bebê chorão, mas sim para o público todo, de forma geral. Obrigada por avisar.)
"Não gosto desta nota que você acrescenta em 'Chega de saudade'. Fica feio, vício de cantora da noite." (Fica mesmo. Parei.)
"Quando for falar algo com o público entre as músicas, lembre-se de continuar emitindo a voz em um bom volume. Você sempre fala baixinho e ninguém entende nada." (Acho que consegui melhorar isso.)
"Quando você for voltar a cantar, sinalize isso ao solista, para que ele finalize o solo antes." (Beleza. Mais beleza ainda seria falar isso fora do palco, mas está valendo!)
"Reparei que você fica sem fôlego em algumas canções. Faça alguns exercícios de respiração, desse jeito você conseguirá sustentar melhor as notas." (Missão dada é missão cumprida.)
"Você bocejou entre uma das músicas!" (Deve ter ficado bem estranho! Desculpem.)
"Renove seu repertório. Tem muitas músicas antigas, conhecidas - eu queria ouvir as inéditas!" (Isso que dá não arriscar! Além de ter ficado entediada, cantando as mesmas músicas de sempre, perdi a chance de mostrar as músicas do CD.)
"O público aqui não gosta de bossa nova. Entende?" (Sim, o público da sua casa gosta mais das músicas pop que tocam na rádio, e essa não é a minha praia. Tchau!)
"Não gostava de sua voz, não, achava muito enjoada." (Acho que minha voz pouco mudou, então pode continuar não gostando à vontade - não acho nada bacana ouvir uma opinião que é, claramente, apenas uma forma de diminuir o interlocutor, sob o disfarce de um elogio muito mal formulado.)
"Tente se maquiar mais, caprichar mais no figurino." (Ok. Não justifica, mas explica: tinha lugar que era tão fuleiro que não me batia nem inspiração para fazer isso... Eita!)
"Você fica cantando muito tempo de olhos fechados." (Se era incômodo para o público, para mim era pior ainda, acredite. Ficava de olhos fechados muito tempo sempre que estava enfadada ou envergonhada com um show qualquer nota, querendo fugir. Mas resolvi os dois - os olhos fechados e os shows qualquer nota.)
"Você quase que tapa seu rosto todo com o microfone. Não se esconda" (Taí algo que eu nunca repararia - obrigada.)
"Não se aproxime muito do microfone, parece insegurança de não conseguir projetar a voz." (Quase resolvido.)
"Coloque um cenário naquele bar que você canta." (Entendi sua observação e a ideia seria boa, mas acho que o mais importante mesmo é não cantar naquele bar - o que já fiz.)
"Sorria, mesmo que um sorriso falso." (Isso não te levou a lugar nenhum - por que eu deveria fazer o mesmo?)
"Você se expressa melhor cenicamente com a mão direita. Segure o microfone com a mão esquerda ou o coloque no pedestal e fique com as duas livres." (Ok. Acho que também vale tentar treinar a mão esquerda para deixá-la mais "desinibida", mas por eu ser destra isso pode demorar um pouco. Obrigada pelo conselho!)
"Estão dizendo por aí que você está desafinando muito." (Estão dizendo ou você está dizendo, sem dizer, por falta de coragem?)


A verdade é que admiro demais algumas destas pessoas por terem tido a coragem de me dar um conselho valioso, mesmo sem me conhecer (poderiam não ter sido bem recebidos) ou por terem sido meus amigos e falado a verdade, querendo que eu melhorasse. Não sei se eu conseguiria ser tão franca com alguém que não conheço (teria medo de levar um fora), e talvez ficasse sem jeito de dizer algo ligeiramente delicado a um amigo.

Acredito que nunca sou a mesma depois de uma crítica. Em alguns casos fico um pouco constrangida na hora, mas é fato que sempre melhoro um pouco, mesmo que só um tiquinho. Quando a preparadora vocal Gláucia Henriques me falou sobre meu hábito de levantar o pescoço (como se estivesse fazendo um esforço hercúleo para cantar), fiquei bem impressionada com o quanto aquilo era incômodo de ver, segundo ela. Fiquei vermelha de tão sem graça, mas mudei muito, e no nosso encontro seguinte eu já estava quase "curada" daquele mal que eu tinha há anos e anos. Penso que sou bem aberta a mudanças para melhor, por isso acredito em crítica construtiva, sim. E exatamente porque estou à disposição para ouvir boas sugestões, não tolero más intenções disfarçadas de "conselho amigo", nem grosserias gratuitas. Grosserias perdem o crédito só por serem grosserias. E quanto às críticas disfarçadas, faço uma provocação: isso tudo é medo de uma cantora de 1,58 metro?





quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Causos

Ando falando de coisas mais sérias aqui no blog. A vida de cantora é uma vida "gorda" (parafraseando Dercy Gonçalves), cheia de experiências. Por isso, pensei no outro lado da moeda: já vivi tantas coisas engraçadas e estranhas cantando na noite que, na verdade, precisava enumerar e contar esses episódios. É verdade que no meio de alguns destes relatos engraçados há uma crítica de minha parte. Mas são "causos", e precisam ser contados!


Um senhor, que eu estava vendo pelo segundo ano consecutivo em uma festa junina no Irajá (eu já havia percebido, no ano anterior, que se tratava de um alcoólatra), ao final da apresentação, depois de ter pedido quase que exclusivamente canções que não estavam em meu repertório, perguntou: "Você canta em outros lugares?". "Sim", eu disse. "Não canta p... nenhuma, aposto que só canta aqui! Você é muito fraquinha! Não cantou nada que eu pedi." Saí correndo da festinha para chegar a tempo no Centro Cultural Carioca, onde ia cantar dali a pouco, pensando que, realmente, é preciso ter muita paciência com quem sofre desta doença...
Certa vez, no Bar do Bonde, em Santa Teresa, fui cantar (voz e violão) com Henrique Silva. Eu e Marcelo, meu produtor, havíamos levado o equipamento para o show, mas, como vimos depois, havíamos deixado um cabo na casa dele (naquela época Marcelo ainda não levava cabos e mais cabos extras, como hoje). O show não podia ser cancelado, pois alguns amigos tinham vindo apenas para me ver. Então... Fizemos um apresentação "orgânica", sem amplificação nenhuma. Graças a Deus o Bar do Bonde é muito pequenino e o show foi bem bonito, curiosamente especial.
Certa vez no Severyna, em Laranjeiras, estava fazendo um show voz e violão sozinha quando, de repente, sinto um baque. Uma senhora que estava se dirigindo ao banheiro havia escorregado e caído em cima de mim e do meu violão. Quase em choque (exagero), dei um intervalo, meio ainda sem entender o que acabara de acontecer... Marcelo disse que parecia algo do tipo: "Larga que o homem é meu!".
Outra vez um professor de teatro - que sempre frequentava meus shows na Lapa e que era ligeiramente sem noção - quase pegou um microfone de um dos músicos que tocava comigo enquanto eu cantava "Cicatrizes" (a ideia dele era fazer um dueto - ser convidado ou não para tal era um mero detalhe...). Quando meu produtor o impediu, ele ficou ofendidíssimo e foi embora. Olhei para Marcelo e o agradeci com o olhar, enquanto cantava. O rapaz nunca mais voltou. Não posso dizer que tenha lamentado.
Aliás, se formos falar sobre canjas (participações bem vindas - outras nem tanto), o assunto também pode render. Quando eu cantava em Laranjeiras, certa vez um homem resolveu que queria cantar, mas, como não era cantor, foi muito, muito mal (foi constrangedor, falando francamente). Culpa minha, que ainda não sabia dizer não. Na semana seguinte fui ver um show de um amigo neste mesmo bar onde eu cantava e soube que eu não poderia dar uma canja (estavam proibidas, me explicaram. Adivinha por quê?). Pena que duas semanas depois, em um show meu, o mesmo dono que me proibiu de dar canja pediu que outro artista desse uma canja em meu show. Vai entender!
Mais recentemente, fui cantar em São Cristóvão, fazer uma participação em um show instrumental. Precisava, antes de começar a cantar, escrever a letra de "Meu Guri", do Chico, então fiquei em uma das mesinhas do bar fazendo isso. De repente um dos clientes, um brincalhão, veio falar comigo, como se fôssemos amigos: "Posso ler?". "Não", respondi. "É uma carta de amor." O tempo passou, o grupo tocou um set inteiro e no meio do segundo set fui cantar. Microfone empunhado, na hora em que ia pronunciar a primeira palavra da primeira canção, o mesmo "velho amigo" que eu não conhecia veio falar comigo, mais uma vez: "E você disse que era uma carta, né? Pois..." Daí, tarde demais, viu que eu ia cantar naquele exato momento e parou de falar. Totalmente desconcentrada, comecei minha participação no show. Se meu pensamento aparecesse em nuvenzinhas, como nas histórias em quadrinhos, diria: "Lembrei! É por causa deste tipo de coisa que eu não canto mais na noite!".
Ainda sobre interrupções, algumas vezes estava cantando e alguma pessoa veio dizer algo "importantíssimo" em meu ouvido, papos longos, e eu tendo que me concentrar na letra. Mesmo que se ignore o "Joselito", é bem difícil manter a concentração, acredite!
Indo para um viés mais espiritual: Uma senhora, após um show meu na Tijuca, pensou que talvez eu pudesse ser a reencarnação do filho que ela havia perdido ainda na gestação, há anos e anos atrás. Perguntou o ano de meu nascimento, fez as contas e achou possível que fosse eu.
Outra vez o dono do bar onde eu cantava simplesmente quase cai em cima dos músicos, junto com o rapaz com quem ele estava brigando. É claro que o show acabou ali mesmo, todos muito impressionados com aquela violência que quase resvalou em nós.
Certa noite (sempre na Lapa...) um rapaz perguntou (no meio do show, é claro) se eu cantava algo de certa cantora. Quando eu disse qual música dela eu cantava, ele disse: "Serve". E continou, não mais perguntando, mas exigindo: "Canta então e dedica para não-sei-quem que está fazendo aniversário e diz que...". Interrompi: "Você podia ao menos pedir por favor." O moço bem educado ficou ofendido e foi para os fundos do bar, "de mal" com a cantora aqui.
Um rapaz disse, após um show, que eu deveria investir no segmento da Wanessa Camargo ("cara de menina, voz boa, você deveria investir neste filão").
Cantando em uma quarta-feira, no meio do jogo do Flamengo, o inevitável aconteceu: "GOOOOOL!", gritaram os presentes, no meio da canção. Isso que dá cantar em lugar onde tem televisão... Com que cara se fica em uma situação dessas?
Um morador de rua, na praça São Salvador, ficou uns 10 minutos gritando "Ela cheira! Ela cheira!", apontando para mim, porque recusei a dar, no meio do show (quando o moço pediu) um autógrafo a ele. Difícil cantar nesta situação - só relaxei no final do show, vendo uma menininha cantando "Qui nem jiló", abrindo os bracinhos, feliz da vida. Ufa! 
Foram tantos, mas tantos casos coletados em apenas cinco anos que não consigo lembrar de todos. Muitos só virão à minha mente quando este post já tiver sido publicado. Alguns deles serviram para me firmar na certeza de que preciso me preservar e só fazer aquilo que estou realmente com vontade. Caso contrário, uma mera situação chata/desconfortável vira algo insuportável, algo para se arrepender amargamente de ter saído de casa. Mas o importante é registrar, se possível rir, e seguir adiante!