Resolvi
fazer aqui uma coletânea de algumas críticas-pérola ouvidas por
mim desde que comecei a cantar.
Fui
escrevendo as frases que ouvi e foi bem interessante poder refletir
novamente sobre estas. Algumas delas foram ouvidas nos intervalos dos
shows, outras em conversas com amigos, outras ainda no próprio palco
(sim, pode acreditar!), mas o fato é que todas me marcaram, negativa
ou positivamente.
Chamo
estas críticas de pérolas porque, de fato, muitas me ajudaram a
melhorar no aspecto cênico ou técnico; me ajudaram a melhorar como
artista. Mas também as chamo de "pérolas" porque muitas
delas são engraçadas, ou esquistas, ou "joselitagens" por
essência. Por todas estas razões, é certo: vale a pena registrar!
"Guidi,
não tape um dos ouvidos quando o retorno estiver baixo, fica
parecendo o Chico Anísio fazendo a paródia do repórter"
(Hahahah! Nunca mais fiz, depois dessa...)
"Não
'emende' uma música com a outra. Toque uma, dê um tempo, depois
toque outra." (Faz sentido; parece que estou com pressa e
querendo que a apresentação acabe logo. Obrigada.)
"Aulas
de músicas seriam mais importantes para você do que uma aula de
canto, na minha opinião." (Pode ser.)
"Canta
samba? Então vá na feijoada da Mangueira, vá nos redutos, vá
conhecer o samba de raiz." (Mesmo que eu não queira ser uma
cantora de samba, esse conselho é muito válido, pois vez ou outra
irei cantar alguns.)
"Te
criticaram lá no Mercadinho São José porque você não cantou
aquela música olhando para a pessoa que fez o pedido da música.
Disseram que você é metida." (Quem é pior: o cliente/bebê
chorão ou aquele que passa uma desinformação destas?)
"Olhe
mais para o público, você às vezes fica de costas por um bom
tempo." (Ok. Nesse caso são se trata de olhar para um bebê
chorão, mas sim para o público todo, de forma geral. Obrigada por
avisar.)
"Não
gosto desta nota que você acrescenta em 'Chega de saudade'. Fica
feio, vício de cantora da noite." (Fica mesmo. Parei.)
"Quando
for falar algo com o público entre as músicas, lembre-se de
continuar emitindo a voz em um bom volume. Você sempre fala baixinho
e ninguém entende nada." (Acho que consegui melhorar isso.)
"Quando
você for voltar a cantar, sinalize isso ao solista, para que ele
finalize o solo antes." (Beleza. Mais beleza ainda seria falar
isso fora do palco, mas está valendo!)
"Reparei
que você fica sem fôlego em algumas canções. Faça alguns
exercícios de respiração, desse jeito você conseguirá sustentar
melhor as notas." (Missão dada é missão cumprida.)
"Você
bocejou entre uma das músicas!" (Deve ter ficado bem estranho!
Desculpem.)
"Renove
seu repertório. Tem muitas músicas antigas, conhecidas - eu queria
ouvir as inéditas!" (Isso que dá não arriscar! Além de ter
ficado entediada, cantando as mesmas músicas de sempre, perdi a
chance de mostrar as músicas do CD.)
"O
público aqui não gosta de bossa nova. Entende?" (Sim, o
público da sua casa gosta mais das músicas pop que tocam na rádio,
e essa não é a minha praia. Tchau!)
"Não
gostava de sua voz, não, achava muito enjoada." (Acho que minha
voz pouco mudou, então pode continuar não gostando à vontade - não
acho nada bacana ouvir uma opinião que é, claramente, apenas uma
forma de diminuir o interlocutor, sob o disfarce de um elogio muito
mal formulado.)
"Tente
se maquiar mais, caprichar mais no figurino." (Ok. Não
justifica, mas explica: tinha lugar que era tão fuleiro que não me
batia nem inspiração para fazer isso... Eita!)
"Você
fica cantando muito tempo de olhos fechados." (Se era incômodo
para o público, para mim era pior ainda, acredite. Ficava de olhos
fechados muito tempo sempre que estava enfadada ou envergonhada com
um show qualquer nota, querendo fugir. Mas resolvi os dois - os olhos
fechados e os shows qualquer nota.)
"Você
quase que tapa seu rosto todo com o microfone. Não se esconda"
(Taí algo que eu nunca repararia - obrigada.)
"Não
se aproxime muito do microfone, parece insegurança de não conseguir
projetar a voz." (Quase resolvido.)
"Coloque
um cenário naquele bar que você canta." (Entendi sua
observação e a ideia seria boa, mas acho que o mais importante
mesmo é não cantar naquele bar - o que já fiz.)
"Sorria,
mesmo que um sorriso falso." (Isso não te levou a lugar nenhum
- por que eu deveria fazer o mesmo?)
"Você
se expressa melhor cenicamente com a mão direita. Segure o microfone
com a mão esquerda ou o coloque no pedestal e fique com as duas
livres." (Ok. Acho que também vale tentar treinar a mão
esquerda para deixá-la mais "desinibida", mas por eu ser
destra isso pode demorar um pouco. Obrigada pelo conselho!)
"Estão
dizendo por aí que você está desafinando muito." (Estão
dizendo ou você
está dizendo, sem dizer, por falta de coragem?)
A
verdade é que admiro demais algumas destas pessoas por terem tido a
coragem de me dar um conselho valioso, mesmo sem me conhecer
(poderiam não ter sido bem recebidos) ou por terem sido meus amigos
e falado a verdade, querendo que eu melhorasse. Não sei se eu
conseguiria ser tão franca com alguém que não conheço (teria medo
de levar um fora), e talvez ficasse sem jeito de dizer algo
ligeiramente delicado a um amigo.
Acredito
que nunca sou a mesma depois de uma crítica. Em alguns casos fico um
pouco constrangida na hora, mas é fato que sempre melhoro um pouco,
mesmo que só um tiquinho. Quando a preparadora vocal Gláucia
Henriques me falou sobre meu hábito de levantar o pescoço (como se
estivesse fazendo um esforço hercúleo para cantar), fiquei bem
impressionada com o quanto aquilo era incômodo de ver, segundo ela.
Fiquei vermelha de tão sem graça, mas mudei muito, e no nosso
encontro seguinte eu já estava quase "curada" daquele mal
que eu tinha há anos e anos. Penso que sou bem aberta a mudanças
para melhor, por isso acredito em crítica construtiva, sim. E
exatamente porque estou à disposição para ouvir boas sugestões,
não tolero más intenções disfarçadas de "conselho amigo",
nem grosserias gratuitas. Grosserias perdem o crédito só por serem
grosserias. E quanto às críticas disfarçadas, faço uma
provocação: isso tudo é medo de uma cantora de 1,58 metro?