quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Causos

Ando falando de coisas mais sérias aqui no blog. A vida de cantora é uma vida "gorda" (parafraseando Dercy Gonçalves), cheia de experiências. Por isso, pensei no outro lado da moeda: já vivi tantas coisas engraçadas e estranhas cantando na noite que, na verdade, precisava enumerar e contar esses episódios. É verdade que no meio de alguns destes relatos engraçados há uma crítica de minha parte. Mas são "causos", e precisam ser contados!


Um senhor, que eu estava vendo pelo segundo ano consecutivo em uma festa junina no Irajá (eu já havia percebido, no ano anterior, que se tratava de um alcoólatra), ao final da apresentação, depois de ter pedido quase que exclusivamente canções que não estavam em meu repertório, perguntou: "Você canta em outros lugares?". "Sim", eu disse. "Não canta p... nenhuma, aposto que só canta aqui! Você é muito fraquinha! Não cantou nada que eu pedi." Saí correndo da festinha para chegar a tempo no Centro Cultural Carioca, onde ia cantar dali a pouco, pensando que, realmente, é preciso ter muita paciência com quem sofre desta doença...
Certa vez, no Bar do Bonde, em Santa Teresa, fui cantar (voz e violão) com Henrique Silva. Eu e Marcelo, meu produtor, havíamos levado o equipamento para o show, mas, como vimos depois, havíamos deixado um cabo na casa dele (naquela época Marcelo ainda não levava cabos e mais cabos extras, como hoje). O show não podia ser cancelado, pois alguns amigos tinham vindo apenas para me ver. Então... Fizemos um apresentação "orgânica", sem amplificação nenhuma. Graças a Deus o Bar do Bonde é muito pequenino e o show foi bem bonito, curiosamente especial.
Certa vez no Severyna, em Laranjeiras, estava fazendo um show voz e violão sozinha quando, de repente, sinto um baque. Uma senhora que estava se dirigindo ao banheiro havia escorregado e caído em cima de mim e do meu violão. Quase em choque (exagero), dei um intervalo, meio ainda sem entender o que acabara de acontecer... Marcelo disse que parecia algo do tipo: "Larga que o homem é meu!".
Outra vez um professor de teatro - que sempre frequentava meus shows na Lapa e que era ligeiramente sem noção - quase pegou um microfone de um dos músicos que tocava comigo enquanto eu cantava "Cicatrizes" (a ideia dele era fazer um dueto - ser convidado ou não para tal era um mero detalhe...). Quando meu produtor o impediu, ele ficou ofendidíssimo e foi embora. Olhei para Marcelo e o agradeci com o olhar, enquanto cantava. O rapaz nunca mais voltou. Não posso dizer que tenha lamentado.
Aliás, se formos falar sobre canjas (participações bem vindas - outras nem tanto), o assunto também pode render. Quando eu cantava em Laranjeiras, certa vez um homem resolveu que queria cantar, mas, como não era cantor, foi muito, muito mal (foi constrangedor, falando francamente). Culpa minha, que ainda não sabia dizer não. Na semana seguinte fui ver um show de um amigo neste mesmo bar onde eu cantava e soube que eu não poderia dar uma canja (estavam proibidas, me explicaram. Adivinha por quê?). Pena que duas semanas depois, em um show meu, o mesmo dono que me proibiu de dar canja pediu que outro artista desse uma canja em meu show. Vai entender!
Mais recentemente, fui cantar em São Cristóvão, fazer uma participação em um show instrumental. Precisava, antes de começar a cantar, escrever a letra de "Meu Guri", do Chico, então fiquei em uma das mesinhas do bar fazendo isso. De repente um dos clientes, um brincalhão, veio falar comigo, como se fôssemos amigos: "Posso ler?". "Não", respondi. "É uma carta de amor." O tempo passou, o grupo tocou um set inteiro e no meio do segundo set fui cantar. Microfone empunhado, na hora em que ia pronunciar a primeira palavra da primeira canção, o mesmo "velho amigo" que eu não conhecia veio falar comigo, mais uma vez: "E você disse que era uma carta, né? Pois..." Daí, tarde demais, viu que eu ia cantar naquele exato momento e parou de falar. Totalmente desconcentrada, comecei minha participação no show. Se meu pensamento aparecesse em nuvenzinhas, como nas histórias em quadrinhos, diria: "Lembrei! É por causa deste tipo de coisa que eu não canto mais na noite!".
Ainda sobre interrupções, algumas vezes estava cantando e alguma pessoa veio dizer algo "importantíssimo" em meu ouvido, papos longos, e eu tendo que me concentrar na letra. Mesmo que se ignore o "Joselito", é bem difícil manter a concentração, acredite!
Indo para um viés mais espiritual: Uma senhora, após um show meu na Tijuca, pensou que talvez eu pudesse ser a reencarnação do filho que ela havia perdido ainda na gestação, há anos e anos atrás. Perguntou o ano de meu nascimento, fez as contas e achou possível que fosse eu.
Outra vez o dono do bar onde eu cantava simplesmente quase cai em cima dos músicos, junto com o rapaz com quem ele estava brigando. É claro que o show acabou ali mesmo, todos muito impressionados com aquela violência que quase resvalou em nós.
Certa noite (sempre na Lapa...) um rapaz perguntou (no meio do show, é claro) se eu cantava algo de certa cantora. Quando eu disse qual música dela eu cantava, ele disse: "Serve". E continou, não mais perguntando, mas exigindo: "Canta então e dedica para não-sei-quem que está fazendo aniversário e diz que...". Interrompi: "Você podia ao menos pedir por favor." O moço bem educado ficou ofendido e foi para os fundos do bar, "de mal" com a cantora aqui.
Um rapaz disse, após um show, que eu deveria investir no segmento da Wanessa Camargo ("cara de menina, voz boa, você deveria investir neste filão").
Cantando em uma quarta-feira, no meio do jogo do Flamengo, o inevitável aconteceu: "GOOOOOL!", gritaram os presentes, no meio da canção. Isso que dá cantar em lugar onde tem televisão... Com que cara se fica em uma situação dessas?
Um morador de rua, na praça São Salvador, ficou uns 10 minutos gritando "Ela cheira! Ela cheira!", apontando para mim, porque recusei a dar, no meio do show (quando o moço pediu) um autógrafo a ele. Difícil cantar nesta situação - só relaxei no final do show, vendo uma menininha cantando "Qui nem jiló", abrindo os bracinhos, feliz da vida. Ufa! 
Foram tantos, mas tantos casos coletados em apenas cinco anos que não consigo lembrar de todos. Muitos só virão à minha mente quando este post já tiver sido publicado. Alguns deles serviram para me firmar na certeza de que preciso me preservar e só fazer aquilo que estou realmente com vontade. Caso contrário, uma mera situação chata/desconfortável vira algo insuportável, algo para se arrepender amargamente de ter saído de casa. Mas o importante é registrar, se possível rir, e seguir adiante!











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