Este post não será
muito longo. Apenas fiquei com uma grande necessidade de falar sobre
responsabilidade. O intuito é ser
mais rigorosa comigo neste aspecto. E talvez escrevendo,
organizando as ideias em um texto, fique um pouco mais fácil me
cobrar isso.
Há
poucas semanas foi marcado um ensaio de um projeto
do qual participo. O ensaio aconteceria em
Laranjeiras. Durante o dia eu havia
pensado o seguinte: não vou me atrasar nem um
minutinho. Vou chegar na hora. Quero estar certa (sempre que chego
atrasada me sinto errada/culpada, o que às vezes atrapalha o meu
desempenho durante todo o ensaio. O desconforto tem este poder).
Mas... Aconteceu do Grupo Galpão estar na
cidade, se apresentando gratuitamente no
aterro do Flamengo (com a peça “Os
Gigantes da Montanha”). Sábado e domingo eu teria gravações
até bem tarde, não poderia vê-los... Como
o meu ensaio era às 21h e o espetáculo era às 19h, pensei que
seria uma ótima ideia ver a peça e depois partir para o
ensaio, feliz da vida. Tudo bem que, para quem estava planejando não
se atrasar, isso era um tanto quanto contraditório. Um dos
princípios dos pontuais deve ser exatamente aquele de
não marcar algo cujo horário seja muito próximo ao horário de
um compromisso logo
a seguir. Mas resolvi ir.
A
peça foi bacana. O problema é que não pude assisti-la até o
fim. Outro problema foi que senti um grande desconforto durante mais
de uma hora, pois o local estava muito cheio e por
isso sentei-me em um lugar
muito, mas muito ruim. Outro problema foi que a todo momento eu
dispersava, pensando que talvez já fosse hora de eu ir embora. Mas o
maior problema mesmo foi ter chegado 10 minutos atrasada ao
ensaio. Não houve clima ruim algum
com a galera da banda, e um dos integrantes até disse que eu
havia chegado “bem” (ou seja, cedo). De fato, eles ainda
estavam arrumando as coisas (afinando
os instrumentos etc.). E, de fato, ainda
faltavam chegar dois integrantes do grupo. Então, sem dúvidas, meu
atraso não foi um grande problema para a produtividade do
ensaio. Mas o que realmente me
incomodou é que eu cheguei atrasada, e ponto. Isso quando havia me
prometido que desta vez não chegaria nem um minutinho depois.
Cheguei não só um, mas 10 minutos depois do que eu havia combinado
comigo.
Fiquei
no dia seguinte pensando muito sobre isso. Fiquei refletindo
sobre essa minha mania: sempre querendo fazer um pouco de
tudo, não priorizando, querendo
dar um jeitinho, me desdobrando (ou tentando). Mesmo que no fim acabe
dando alguma confusão; mesmo que
eu acabe prejudicando outros com isso, não mudo. Eu já
havia percebido há algum tempinho que o prazer de fazer
algo legal e depois prejudicar um
compromisso em consequência disso acabava não valendo
a pena. Porque, como já mencionei, acabo ficando com o meu
vacilo na cabeça e isso estraga um pouco minha produtividade. Chegar
pedindo “desculpe, desculpe” não é legal. Já havia sacado
isso. Mas desta vez esta sensação veio com mais força. Talvez
porque eu não tenha me atrasado no trânsito; nem tenha me
enrolado para sair de casa; nem tenha calculado mal:
eu simplesmente estava em uma peça, por puro lazer, e esta
não é uma boa razão para não chegar pontualmente em um ensaio. O
certo mesmo seria não ter ido. Por quê? Porque existem
outras pessoas na jogada que não têm nada a ver com o fato de eu
estar com vontade de ver uma peça. (Se
o compromisso prejudicado envolvesse apenas a mim, ainda
assim seria um vacilo. Mas seria um vacilo
um pouco menor.)
Este
episódio me fez pensar sobre minha visão de profissionalismo. Me
perguntei: o que diabos eu penso de mim como cantora? Eu acho que
cantar é uma brincadeira, algo que posso fazer sem me doar 100%?
Coloco qualquer outra coisa na frente? Desdenho? Será
que é tão difícil assim negar alguma coisa para zelar por esta parte
importantíssima da minha vida?
Este
texto, como diz o título, fala sobre responsabilidade de forma
geral. E o atraso é uma forma de
irresponsabilidade. A pontualidade, por sua vez, é amostra de
comprometimento. Então achei que
seria ótimo para mim (como já está sendo!) escrever sobre isso,
divagar, etcetera e tal. Não vou adquirir uma pontualidade
britânica assim, de uma hora para a outra, apenas porque
escrevi e publiquei isso aqui. Mas certamente vou ficar mais atenta,
mais envolvida com esta questão (quiçá envergonhada por não fazer
nenhum esforço de melhora depois de discorrer sobre este tema). É
verdade que me sinto bem menos mal se o motivo do atraso é algo
que “não tive como evitar” (mas quase sempre é possível
evitar, sejamos sinceros!) e não algo que beira o desrespeito
(por exemplo: ver uma peça), mas quero melhorar de forma geral;
não quero ter justificativas perfeitamente razoáveis. A ideia não
é essa, ter bons argumentos, uma boa razão para não cumprir o
combinado. Já disse Sady Bianchin: se a justificativa do ator que
chega depois da hora e atrasa o início da peça servisse para
resolver alguma coisa, tudo bem. Mas infelizmente pedir perdão ao
público não fará com que o público não espere.
Acho
que as pessoas muito sérias e focadas, as pessoas que admiro
profissionalmente, estão
acostumadíssimas a deixar de lado uma saída com os amigos, um
piquenique ou uma festa para que
possam se dedicar a um ensaio, um treino, um estudo. As
coisas muito importantes são assim: gostam (e precisam) de muita
atenção. E tudo o que faço em relação à música é muito
importante - afinal, é o que mais gosto de fazer e é também aquilo
que eu faço de melhor.
Posso
estar parecendo ser rígida demais comigo neste sentido, mas desta
vez esta questão calou fundo, não sei exatamente por qual razão.
Afinal, já cheguei atrasada outras (inúmeras) vezes a outros
compromissos. Talvez tenha sido culpa do desconforto durante a peça.
Foi tão, mas tão incômodo que me levou a repensar minha vida. Tudo
tem um lado bom, olhe só. (Uau! Será que se eu tivesse
ficado confortavelmente sentada durante a peça nada disso teria
passado por minha cabeça?)
Agradeço
a todos os pontuais que já conviveram e ainda convivem comigo pela
compreensão e pelo bom exemplo. Agradeço a todos aqueles
profissionais, responsáveis, que me inspiram e me fazem querer ser
mais séria (no melhor dos sentidos) a cada dia. E agradeço também
ao Grupo Galpão, por ter me dado a oportunidade de pensar nisso
tudo. (Ainda quero ver a peça toda, estava tão boa...)
Um dia
eu chego lá! Vamos trilhando o caminho.