No post anterior abordei a questão da beleza no mundo
(comercial) da música.
Agora quero pensar-escrever sobre a questão da idade neste
mesmo meio.
Falar sobre idade pode ser dolorido para algumas pessoas – afinal, nem para todo mundo pensar sobre o passar do tempo é algo tranquilo. Mas acho que bom
mesmo é colocar este assunto na roda. Afinal, por que não encarar algo tão real? Ficar mais
velho é algo democrático, pois acontece com todos os que permanecem aqui, na
jogada – só quem sai antes não passa por isso. Mas se estiver em campo, vai ter
que enfrentar. Vamos lá!
Algumas pessoas acreditam que existe uma idade-limite para
ser artista. Mais especificamente, pois posso falar de cadeira, acreditam que
existe uma idade-limite para que um cantor fique famoso (esta palava é meio brega, tenho sempre vontade de colocar aspas). É preciso “aparecer”
ainda fresco, juvenil, novinho. Este pensamento tira do
foco a qualidade do que está sendo feito e cria uma preocupação em “correr
atrás do tempo perdido” (para quem ainda não “chegou lá”) e talvez também exerça
uma pressão para quem é muito novo e ainda está pensando na possibilidade de
seguir a carreira musical. (Lembro que certa vez li na revista Rock Press que o Peter Buck, guitarrista
do R.E.M., tinha começado a tocar guitarra em uma idade “no mínimo avançada”,
segundo o autor do texto: aos 21 anos. Fiquei chocada. Aquilo era considerado
muita idade? Deve ter sido por isso que comecei, cheia de pressa, a tocar
guitarra aos 12 anos, mesmo que até hoje não me dedique a isso – teria sido muito
melhor ter começado a tocar mais tarde e ter feito a coisa direito, que nem o Peter
Buck, né?)
Não acredito neste pensamento. Por que a idade seria uma
trava? Não entendo. Não é sobre arte
que estamos falando? Ou sobre a profissão de modelo? (Bem, os artistas que mais
vendem atualmente, de fato, são quase modelos: muitas fotos para capas de
revista, imagens gigantescas nas Lojas Americanas, outdoors, muita publicidade
para alimentos, cursos e produtos estéticos – opa, tudo a ver!) A arte permite
tanta coisa, é tão aberta e possível que acho absurdo que algumas pessoas
queiram restringi-la a poucos, fazendo desta algo puramente visual, no pior dos
sentidos (bem distante do sentido visual das artes plásticas!). Com certeza
muitos dos artistas ainda desconhecidos que não são jovens o bastante para os critérios do mercado se sentem
desestimulados e decepcionados com tamanha futilidade na área que tanto amam.
Falando sobre mim neste quesito idade, é interessante ver
que até com artistas independentes e nada famosos como eu há uma pressão neste
sentido: alguns conhecidos já se referiram à minha avançadíssima idade – 30
anos agora – como se isso fosse um sinal de fracasso (por eu não ser “famosa”).
Esta inclusão involuntária no rol dos fracassados não me agrada nem um pouco, e
é claro que declino (intimamente) do convite para entrar neste clube. Não me
sinto mal por não ter 15 anos, não me sinto velha – apesar de às vezes brincar
que sou velhinha por adorar ficar em casa – e nem acho que esteja errada por não
ser famosa. Não me pressiono para fazer meu trabalho focando em ser “famosa” da
forma como esperam. Acho que às vezes é até frustrante para algumas pessoas saberem
que meu foco é ter credibilidade e uma carreira sólida. Isso deve parecer sem
graça, talvez, e pouco ambicioso – como se exatamente ter credibilidade e
solidez não fosse uma enorme conquista! Contei isso para mostrar que existem
vários níveis desta pressão que menciono e esta é sentida até por quem está
fora da roda viva da fama.
Engraçado como lembro que esta questão de idade sempre me
incomodou. Sempre pensei: isso é algo tão efêmero; as pessoas que se fiam muito
nisso estão se arriscando demais. E a decepção, quando a juventude passar? O
que irá restar quando isso acontecer? .
Não acredito muito em idade como impedimento para quase
nada. A cada dia que passa vejo mais e mais pessoas provando que é possível realizar
coisas incríveis em qualquer idade. E principalmente na arte.
Já mencionei aqui em um post
(onde falava sobre algumas pérolas que já ouvi) que certa vez uma pessoa
sugeriu que eu investisse no filão da Wanessa Camargo, por eu ter “cara de
menina”. Quanto tempo aquilo duraria? Um ano? Dois anos? É a tal da questão do
efêmero. E acho que a arte nada tem de efêmera. É tão incrível que dura muito
mais do que nós. Isso é que nos motiva a deixarmos nossa marca, a fazermos
bonito (referência ao título do post anterior) para que nosso trabalho fique muito tempo por aí, encantando e
emocionando outras pessoas.
(Impossível não pensar que talvez este assunto - idade dos artistas -, de tão raso, talvez nem devesse ser mencionado. Mas estou me contradizendo. Como escrevi no início, vamos dialogar!)