Nos
dias 22, 23 e 24, aconteceu no Espaço Sesc, em Copacabana, a oficina
“Descontrole não é caos”, coordenada por Suely Mesquita. Nós, 20 cantores
populares selecionados para esta incrível oportunidade, tivemos 30 horas para
pirar e ao mesmo tempo focar. Conscientizar e deixar rolar. Se jogar! “Mico é
vida”, disse Suely. Era aquele o momento onde nós todos não podíamos apenas ter
boas vozes. Era preciso mais. Era preciso tentar entrar em contato com a
própria essência, sem medo.
Cada
solista deveria escolher uma canção para ser trabalhada. Escolhi
propositalmente uma canção que nunca havia cantado, e, é claro, começou a bater
um pânico de dar branco na hora. Ao final do 1º dia de oficina (eu só cantaria
no 2º e 3º dias), expus minha preocupação a Suely, que me deixou totalmente
livre para escolher outra, mas ao mesmo tempo disse algo fundamental para que
eu permanecesse com a mesma canção: “Se o branco for uma questão importante
para você, faça, pois aqui é o espaço para trabalhar exatamente este tipo de
coisa”. Taí: esta forma de abordar o branco (e nervosismos em geral) era
inédita. E libertadora.
Fiz
o “Choro sem parcimônia” duas vezes e pude saber de algumas coisas que
demoraria bastante para descobrir sozinha. Que posso colocar mais comicidade e
alegria nesta canção sarcástica que lamenta e que ri de si. Que posso explorar
mais o palco. Que posso compartilhar mais com o público e que é interessante
que as pessoas entendam esta história desde o início, pois o texto é muito
importante nesta canção quase falada. Que às vezes menos pode
ser mais, é que uma expressão corporal menos expansiva pode, ironicamente,
fazer a cena e a intenção crescerem (e foi o que senti).
Suely
nos dizia sempre que necessário: “A perna treme? Deixe tremer.” “Use suas mãos
trêmulas na canção, coloque esta tensão no que você está fazendo.” “Não tente ignorar
o nervosismo, nem fingir que não está acontecendo.” Mas quando nossa vizinha maluca – aquela vozinha chata que nos
atormenta quando estamos inseguros: "vai errar! vai errar!" – começar
a querer aparecer, aí sim, ignore. Deixe falar, sem dar atenção.
A
cada apresentação dos solistas, os outros solistas e os ouvintes escreviam
bilhetinhos para dizer o que achavam de bom na apresentação e também o que
podia melhorar. Não jogo estes bilhetinhos fora nem que me paguem: são como o
mapa da mina.
Tantas
coisas ficaram e ainda vão reverberar muito, tenho certeza.
Zélia
Duncan cantando “Nega música”, me dando saudades do Itamar (momento de escrever
“choro preso” no grande mural de papel onde registrávamos nossas sensações e
percepções).
Bethi me dando a mensagem: brinque mais! Música é para brincar!
Adriana me dizendo: procure o chão, plante os pés, conecte-se!
E
um ponto muito importante que enxerguei neste curso: vi ao final destes três
dias de curso em intenso contato com outros 19 solistas que muitos de nós temos
(ou tínhamos) medo de mostrar aquilo que criamos. Muitos compõem, mas têm
vergonha de mostrar as próprias canções. Me incluo nisso: tenho escrito pouco,
e este pouco não mostro a ninguém. Ao final do curso, nos reunimos na casa de
um dos solistas e ficamos cantando, curtindo e conversando, e foi o momento
onde alguns cantores conseguiram mostrar um pouco do que faziam. Em um ambiente
de festa, ficaram mais à vontade para “confessar”: eu componho. E olhe só esta
minha canção.
Descontrole
não é caos. E “controle não é cais”, como um dos participantes muito bem
escreveu no mural de papel. Deixe sair do tom, esqueça a letra, chore sem
culpa, ria à vontade. Mostre sua música.
Se
deixar descontrolar é se encontrar.
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