Há
tempos escrevi aqui neste blog sobre responsabilidade. Eu escrevi
sobre atrasos e o compromisso que temos com nossos colegas de
trabalho após ter me atrasado para um ensaio (apenas 10 ou 15
minutos, mas isso já configura atraso, certo?) por estar vendo uma
peça de teatro. Refleti e achei uma sacanagem deixar colegas me
esperando porque eu estava fazendo algo “importantíssimo” (me
divertindo). A partir daí, me conscientizei um pouco mais sobre
isso. Continuo me atrasando vez ou outra, mas não por estar curtindo
“Os gigantes da montanha” no aterro do Flamengo, pode ter
certeza!
Este
assunto veio à tona novamente. Fui fazer uma gravação e fiquei
conversando com um amigo pontualíssimo, e ele disse algo bem
interessante. Ele percebe (e fica abismado com isso) que é comum,
absolutamente normal, pessoas chegarem atrasadas 40 minutos, 1 hora,
2 horas, e nem se darem ao trabalho de telefonarem para avisar do
atraso. E, pior (fechando com chave de ouro), ao chegarem, os
atrasados mandam um: “E aí, tudo bom?”, mais tranquilos do que o
Dalai Lama.
Isso
não é certo. Chegou atrasado? Minimamente, peça desculpas. Tudo
bem, todo mundo fica sem crédito no celular, nem sempre é possível
ligar, compreendo perfeitamente. (E a verdade é que com boa vontade
rola até de ligar a cobrar, pedir para alguém avisar de algum jeito
etc.) Mas, se não rolar nem isso, por favor, peça desculpas pelo
atraso. E tente não fazer isso de novo.
Levei
um bolo estes dias e me dei conta de
que não estava chocada: achei normal. Por que achei normal? Deve ser
porque eu costumava cantar com um instrumentista que sempre nos
rendia adrenalina: será que ele vem? Deve ter sido isso que me deixou cascuda neste
quesito. Nada mais me surpreende quando o assunto é falta de
compromisso.
Entendo perfeitamente o constrangimento em
dizer “não estou mais a fim, quero parar”, mas... Não estando
mais a fim, que tal correr atrás de um substituto para o trabalho?
Que tal, não achando um substituto, passar por cima do
constrangimento e se livrar de uma vez de um peso – que é o que
deve estar sendo este trabalho do qual se foge?
Pode não ser indolor na hora (dar uma má notícia, quem gosta
disso?), mas a recompensa é boa: domingos livres, comendo pipoca e
vendo filme, sem o peso na consciência (“tem gente lá não sei
onde me esperando”). Nem dá para curtir um filminho, desse jeito.
Me
toquei de que era um péssimo sinal estar acostumada a um bolo
destes, tamanho família. A verdade é: eu nunca deveria já esperar
um no-show destes. Eu
deveria ter ficado sem reação, ter sido pega de surpresa. Mas, não.
Não me abalei e corri
atrás de outra solução.
É
claro que me sinto feliz quando percebo que hoje em dia certas coisas
não me abalam, não acabam com meu dia, nem me tiram do sério. Com
minha antiga banda, por exemplo, cada atraso de um dos músicos me
deixava a ponto de explodir. Ficava indignada com a falta de
consideração, e isso estragava os ensaios, meu bom humor,
o clima geral. Com o tempo me prometi que não deixaria mais este
tipo de coisa me irritar, pois, senão, jamais teria paz. E sai mais
barato (já disse Augusto Cury) deixar isso para lá. O problema é
dos furões, não meu, eles que arquem com as consequências (filme
queimado, trabalhos escasseando).
Me
expressando assim pareço até ser super responsável e pontual,
certo? Mas já disse no início do texto que isso não é verdade.
Sou responsável, mas não pontual. Muitas vezes chego uns 10
minutinhos depois, outras raras vezes atraso seriamente. (E muitas outras vezes, chego na hora ou até
antes.) Mas sem dúvidas tomei consciência do quanto envolvemos
OUTRAS PESSOAS com nossos problemas ao nos atrasarmos, ao não
aparecermos etc. Por isso, um atraso meu sempre é acompanhado da
preocupação com quem deixei esperando – e de um sincero pedido de
desculpas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário