terça-feira, 14 de outubro de 2014

Responsabilidade II

Há tempos escrevi aqui neste blog sobre responsabilidade. Eu escrevi sobre atrasos e o compromisso que temos com nossos colegas de trabalho após ter me atrasado para um ensaio (apenas 10 ou 15 minutos, mas isso já configura atraso, certo?) por estar vendo uma peça de teatro. Refleti e achei uma sacanagem deixar colegas me esperando porque eu estava fazendo algo “importantíssimo” (me divertindo). A partir daí, me conscientizei um pouco mais sobre isso. Continuo me atrasando vez ou outra, mas não por estar curtindo “Os gigantes da montanha” no aterro do Flamengo, pode ter certeza!
Este assunto veio à tona novamente. Fui fazer uma gravação e fiquei conversando com um amigo pontualíssimo, e ele disse algo bem interessante. Ele percebe (e fica abismado com isso) que é comum, absolutamente normal, pessoas chegarem atrasadas 40 minutos, 1 hora, 2 horas, e nem se darem ao trabalho de telefonarem para avisar do atraso. E, pior (fechando com chave de ouro), ao chegarem, os atrasados mandam um: “E aí, tudo bom?”, mais tranquilos do que o Dalai Lama.
Isso não é certo. Chegou atrasado? Minimamente, peça desculpas. Tudo bem, todo mundo fica sem crédito no celular, nem sempre é possível ligar, compreendo perfeitamente. (E a verdade é que com boa vontade rola até de ligar a cobrar, pedir para alguém avisar de algum jeito etc.) Mas, se não rolar nem isso, por favor, peça desculpas pelo atraso. E tente não fazer isso de novo.
Levei um bolo estes dias e me dei conta de que não estava chocada: achei normal. Por que achei normal? Deve ser porque eu costumava cantar com um instrumentista que sempre nos rendia adrenalina: será que ele vem? Deve ter sido isso que me deixou cascuda neste quesito. Nada mais me surpreende quando o assunto é falta de compromisso.
 Entendo perfeitamente o constrangimento em dizer “não estou mais a fim, quero parar”, mas... Não estando mais a fim, que tal correr atrás de um substituto para o trabalho? Que tal, não achando um substituto, passar por cima do constrangimento e se livrar de uma vez de um peso – que é o que deve estar sendo este trabalho do qual se foge? Pode não ser indolor na hora (dar uma má notícia, quem gosta disso?), mas a recompensa é boa: domingos livres, comendo pipoca e vendo filme, sem o peso na consciência (“tem gente lá não sei onde me esperando”). Nem dá para curtir um filminho, desse jeito.
Me toquei de que era um péssimo sinal estar acostumada a um bolo destes, tamanho família. A verdade é: eu nunca deveria já esperar um no-show destes. Eu deveria ter ficado sem reação, ter sido pega de surpresa. Mas, não. Não me abalei e corri atrás de outra solução.
É claro que me sinto feliz quando percebo que hoje em dia certas coisas não me abalam, não acabam com meu dia, nem me tiram do sério. Com minha antiga banda, por exemplo, cada atraso de um dos músicos me deixava a ponto de explodir. Ficava indignada com a falta de consideração, e isso estragava os ensaios, meu bom humor, o clima geral. Com o tempo me prometi que não deixaria mais este tipo de coisa me irritar, pois, senão, jamais teria paz. E sai mais barato (já disse Augusto Cury) deixar isso para lá. O problema é dos furões, não meu, eles que arquem com as consequências (filme queimado, trabalhos escasseando).

Me expressando assim pareço até ser super responsável e pontual, certo? Mas já disse no início do texto que isso não é verdade. Sou responsável, mas não pontual. Muitas vezes chego uns 10 minutinhos depois, outras raras vezes atraso seriamente. (E muitas outras vezes, chego na hora ou até antes.) Mas sem dúvidas tomei consciência do quanto envolvemos OUTRAS PESSOAS com nossos problemas ao nos atrasarmos, ao não aparecermos etc. Por isso, um atraso meu sempre é acompanhado da preocupação com quem deixei esperando – e de um sincero pedido de desculpas.  

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