quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Olha eu aqui, outra vez

Há um constrangimento na vida do artista: a necessidade de falar de si, e falar bastante.
Tenho reparado em mim às vezes um pequeno pudor, quase um saco cheio de mim mesma: “Ah, meu Deus, lá vou eu de novo colocar no Facebook algo sobre mim.” Nem eu mesma me aguento, às vezes.
Mas a questão é que realmente não posso me dar ao luxo de não me divulgar, de não bater nesta tecla. O que faço é trabalho de formiguinha: cada detalhe conta e é muito importante. Cada nova pessoa que conhece meu som é uma grande conquista, e muitas vezes é mais um aliado, que irá recomendar minha música, falar sobre ela, comparecer aos shows etc.
Quando se é um artista independente, então, ser monotemático é mais necessário ainda. Não se pode contar apenas com a força do boca a boca. O artista independente tem que sempre movimentar esta roda, dar o primeiro empurrão da divulgação. Depois, podem até rolar alguns compartilhamentos por parte dos amigos, mas para isso o artista precisa o tempo todo se fazer notar: “Ei, eu existo! Olha minha música aqui! Já ouviu?”.
Bem, mas além do receio de se tornar uma pessoa autocentrada e até narcisista, há também um segundo receio, talvez pior: se tornar um mala sem alça.
Como penso no meu trabalho 24 horas por dia (ou quase), tenho às vezes a impressão de que falo demais sobre ele, mesmo que, na prática, eu talvez não externe tanto assim. Talvez os outros nem estejam tão por dentro do que eu faço. Talvez, até (e este é outro tipo de receio), eu não saiba me divulgar direito, e peque não pelo excesso, mas pela escassez. EITA! Que dúvida!
Será que eu deveria pedir aos amigos que não curtiram minha página no Facebook para que o façam? Será que isso não é um pouco invasivo, não é uma pequena pressão? Meu amigo, afinal, tem o direito de gostar de mim, mas não necessariamente do meu som. E tem o direito de não querer curtir uma página caso não curta de verdade. Delírios da era moderna – parece até engraçado e bobo, certo? Mas também penso que isso pode ser questão de etiqueta virtual.
Meu namorado é artista plástico e escritor, e nós conversamos sobre isso vez ou outra. Sabemos, eu e ele, que é necessário colocar o bloco na rua, sem dúvidas, pois ambos queremos encontrar, comunicar, chegar a outros com o que fazemos. Mas qual o limite desta ênfase em si mesmo? Quando é que esta postura começa a ser quase prejudicial ao artista, tornando-se ele exageradamente autocentrado?
Creio que devo estar escrevendo sobre isso agora porque, apesar de esquecer de registrar vários momentos com colegas de profissão, apesar de não anunciar alguns shows onde participo como convidada por pura distração e apesar de estar precisando fazer uma nova sessão de fotos há alguns meses, tenho andado mais ligada em tudo o que possa ser favorável para mim, e neste pacote incluo também a divulgação. Hoje em dia consigo enxergar melhor que tudo o que faço musicalmente pode e deve ser divulgado, e preferencialmente registrado em fotos/vídeos para atrair mais a atenção das pessoas – sim, são coisas simples, mas que ajudam muito a longo prazo. Então, acredito que esta nova percepção tenha me deixado um pouco impressionada com a quantidade de “eu” que anda rolando. Eu fazendo isso, eu fazendo aquilo, eu neste lugar aqui, eu com esta pessoa acolá... É claro que estou, neste texto, me referindo ao eu-cantora, não ao eu-rotina (nome ruim, mas valeu a intenção), pois este último não precisa ser divulgado por aí.
Mas a questão é que esta minha atitude mais proativa dos últimos meses tem funcionado. Falar sobre mim tem me ajudado, correr atrás de me fazer notar tem me ajudado. Tenho crescido, em vários sentidos. E quero continuar crescendo, por isso as ideias e as ações nunca podem parar.
E que nada disso seja pura vaidade, mas uma forma de promover encontros!

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