Desta grande vontade de
escrever acabou surgindo a vontade de publicar estes textos. Percebo que estes
escritos se tornam mais e mais importantes para mim e para a organização dos
meus pensamentos, e pensei que seria bem bacana se outros cantores (e músicos
de forma geral) pudessem ler um livro abordando um universo musical totalmente
realista e muito, muito próximo de todos os que vivem de música e não são
(ainda) reconhecidos pelo grande público.
Eu adoraria ler um livro assim.
Adoraria saber minuciosamente como meus colegas de profissão lidam com o
trabalho, como fazem para enfrentar as crises, o que pensam a respeito de certas condições de trabalho, como
se portam diante de determinadas situações etc.
Então vi que realmente é
importante fazer isso: publicar estas organizações de pensamentos, ou
desabafos, ou causos, ou opiniões. Eu enfrentava uma resistência interna em
relação a isso por achar que um livro sobre si seria coisa para artistas
“famosos” (não consigo escrever esta palavra sem colocar aspas), e talvez não
fizesse muito sentido fazer isso no momento. Mas cheguei à adorável conclusão
de que, na verdade, eu tenho muito mais obrigação de fazer isso do que qualquer
grande artista renomado.
Por quê? Porque eu preciso
mostrar serviço, no melhor dos sentidos. Não posso me dar ao luxo de ficar
parada. Eu, como artista independente (foi mal Lenine, depois penso em um termo
que não seja este! - mais tarde comento sobre este ótimo vídeo do Lenine que
assisti estes dias, criticando o termo “independente”), preciso produzir, e
muito. Não posso tirar férias, ficar de bobeira, ver a vida passar. Preciso
trabalhar para que mais pessoas me conheçam a cada dia e saibam que há uma
cantora por aí que canta, compõe, escreve, agita.
A Bethânia, por exemplo, tem
todo o direito de parar e descansar, sempre que quiser. Produziu muito, tem
inúmeros discos gravados, fez uma quantidade abissal de shows, mostrou a que
veio. E continua mostrando. Então, se quiser tirar um ano sabático, beleza. Já
é conhecida pelo país todo e fora dele também, pode ficar um tempo sem aparecer.
Eu, não. Como já disse aqui no
blog, cada nova pessoa que conhece meu som é uma grande conquista. Então o
trabalho de formiguinha não pode parar, e este também abarca estes textos aqui,
que não muitas pessoas leem. Mas e daí? O que importa é fazer. Eu preciso disso, é bom para mim – e creio que também seja
bacana para quem lê.
Então, façamos! Publiquemos
livros, lancemos discos, mostremos a cara. Eu e todos que ainda não têm grande
alcance. Precisamos fazer e fazer até
vencermos pela persistência. Nossa arte deve ser divulgada para que esta
encontre seus pares por aí: ouvidos/olhos que procuram exatamente o que temos a
oferecer.