Esta frase do título eu disse à amiga Claudia Holanda, há umas três semanas, quando (para variar) falávamos sobre música e liberdade.
Pouco depois fiquei sabendo que
Tom Zé faria um show dia 16/06 no Sesc Ginástico. Opa! Claro que eu ia.
E vê-lo novamente ao vivo - já
havia ido a um show dele em 2008, no Circo Voador - foi inspirador. Shows incríveis,
aliás, sempre têm este efeito sobre mim: me dão a impressão de que todos nós podemos
dar o que temos de melhor na hora da criação e da interpretação. De que podemos
ser muito bons.
E o show do Tom Zé,
especificamente, me dá a impressão de que podemos tudo.
Porque ele é livre e não tá nem
aí. Não tem medo da entrega, do ridículo (e nunca o é, exatamente por não ter
medo), da naturalidade aliada a um espírito de um grande contador de histórias.
Tom Zé, que não está nem aí, está
ligado. Escreve sobre o que vivemos ontem, sobre o que estamos vivendo, fala
sobre o que é pequeno e sobre as grandes coisas.
Tom Zé no palco é um foguete,
energia saindo pelo ladrão. Pode ser energia miúda, contida graciosamente, de
brincadeira; pode ser explosão. É um cara que entra no palco já falando, verborrágico
e cheio de conteúdo – mesmo quando discursa sobre as coisas mais engraçadas e
cotidianas. E não conseguimos desgrudar os olhos dele nem dispersar os ouvidos
para outra lembrança enquanto ele está lá, nos conquistando com seus causos,
nos explicando como compôs aquilo, como escreveu isso, como foi provocado por
fulano, como provocou sicrano.
Tom Zé quase que nos deixa sem
jeito com sua naturalidade. Por que diabos ele é tão ele mesmo, ali, naquele
lugar “sagrado”, onde muitos sequer abrem a boca para se comunicar com
palavras, se restringindo a cantar para manter a aura de sacralidade? Por que
Tom Zé faz questão de quebrar qualquer mística (ou seria criar uma mística
diferente?) no segundo em que pisa no tablado, falando em cima das palmas que
ele talvez tenha tentado impedir com seu discurso? Por que esta proximidade, Tom
Zé?
Este aliás, é o grande pecado que ele comete do início ao fim do show: não ser blasé. Recebe o público ao lado da barraquinha de CDs
e livros, depois da apresentação, e abraça, beija e faz dedicatória. É empreendedor: enfatiza a venda de seus produtos durante o show. Não faz pouco caso da
necessidade atual de um artista independente (!!!) em vender seu trabalho. Pode
um artista do tamanho de TZ, com tanta estrada, agir assim? Ele prova que sim.
Falando em ser
artista, Tom Zé admitiu em entrevista ao Brasil
de Fato: “Eu só me tornei artista porque descobri logo que era um péssimo
cantor, um péssimo violonista e um péssimo compositor.” É a velha e admirável história
de transformar as dificuldades em suas características mais marcantes.
Finalizando, a impressão que
tenho é que Tom Zé não deixa uma só ideia sua passar impunemente. Porque parece
que TZ não tem tempo para desperdiçar tempo. Não pode deixar ideias morrerem virgens. Não pode deixar de produzir, de falar sobre o que vê na esquina, no tribunal do Feicibuqui, na televisão. E é por
isso que uma pessoa como eu, uma artista tantas vezes tímida e receosa, preciso
dele. Para saber que posso sair de mim, posso falar sobre o que eu bem quiser, o
que eu bem entender. Não preciso ter medo das palavras, nem dos gestos. Posso
experimentar e aprender. Me ensina a ser livre como você, Tom Zé?
(Talvez eu devesse ter escrito este texto depois de ler seu livro, Tropicalista lenta luta, que iniciei anteontem. Mas sinceramente, o show me deixou impressões tão fortes e importantes que eu jamais poderia deixar isso para depois. Quem sabe escrevo novamente sobre a leitura daqui a um tempinho?)