A frase par
délicatesse j'ai perdu ma vie, de Rimbaud, cala fundo no coração dos
envergonhados. A timidez, esta característica que pode a princípio ser
considerada fofinha, atrapalha e muito a vida de quem é assim. Falo isso de
cadeira.
Imagine o quanto é frustrante perceber que algo bem bacana poderia ter acontecido mas você, tímido, ficou sem graça de mostrar seu trabalho. Ficou sem graça de falar de si. Ficou sem graça de pedir uma ajuda a quem poderia ajudar. Perder oportunidades: taí algo bastante eficiente para se sentir péssimo consigo.
Imagine o quanto é frustrante perceber que algo bem bacana poderia ter acontecido mas você, tímido, ficou sem graça de mostrar seu trabalho. Ficou sem graça de falar de si. Ficou sem graça de pedir uma ajuda a quem poderia ajudar. Perder oportunidades: taí algo bastante eficiente para se sentir péssimo consigo.
Mas...
Mesmo continuando tímida,
percebi que a cara de pau é um pouco independente disso. Não precisa ser
extrovertido. Basta ser cara de pau, mesmo.
Andei percebendo uma
mudança em mim neste sentido. Ainda é algo pequeno, mas já ajuda bastante.
Tenho percebido que não me importo muito se me acharão uma chata por tentar
travar contato com alguém que pode ajudar a divulgar meu trabalho (rádio, TV,
jornal). Não tenho me visto tão sensível assim a não-respostas (quando peço o
endereço para envio do meu CD a alguém da imprensa, por exemplo, é bastante
comum ficar sem resposta). Creio que isso aconteça porque tenho me achado
muito certa nesta atitude. Concluo: estou agindo da forma mais coerente
para um artista independente, alguém que precisa lutar para aumentar o alcance
de seu trabalho.
(E, aliás, quem não precisa
lutar nesta vida? Muito pouca gente, sejamos sinceros - e paremos de achar que
correr atrás foi algo que inventaram exclusivamente para a nossa pessoa.)
Tenho pensado que não importa
muito o que acharão desta minha atitude de procurar quem nem me conhece, nunca
me viu, não faz a menor ideia de quem eu seja. A opinião de terceiros sobre mim
está fora do meu controle. E creio que não exista nenhuma outra forma de agir
senão esta. Cabe a mim tentar, mesmo - e por enquanto não posso me dar ao luxo
de parar. E, quer sabe? Já consegui muitas coisa graças a esta atitude
proativa. Não consegui várias outras com esta mesma atitude, mas estaria bem
menos conhecida se não tivesse mexido meus pauzinhos e corrido
atrás.
Bom, também não sou
daquelas que insiste em abordar a mesma pessoa várias vezes - isso já não acho
que seja bom. Creio que isso acabe mais atrapalhando do que
ajudando. Temos que vencer pelo cansaço, sim, mas não sei se cansando uma
pessoa específica. A meu ver, este "cansaço" quer dizer: muitas
ações, fazer muito, inventar muito, não parar, gravar, criar parcerias, se
divulgar ao lado de outros artistas. Isso "cansa" em um ótimo
sentido, fazendo com que você se torne quase impossível de não ser visto. Não
dá para te ignorar, porque você está agindo demais, está fazendo sem
parar.
Outro dia estava pensando
em pequenas coisas que gostaria muito de alcançar e me vi negativa, pensando em
tudo o que ainda não alcancei. Mas percebi que não obter certas respostas ou
ser invisível a certas pessoas não me alterava, nem me machucava. Caso alguém
esteja me ridicularizando por tentar certas coisas, o que fazer? Nada.
Continuar tentando. O "não" já é meu, certo? (Taí uma frase
libertadora.)
Ando cada vez mais
entendendo que certas coisas não dependem de mim. Depende de mim ter a ação. A
reação, jamais poderei controlar. Não há razão em me manter inerte por isso.
Se aprendi alguma coisa (e
aprendi mesmo, oras!) nesta vida de música, é que a cara de pau, além de ser
muito benéfica (aprecie com moderação, é claro - como mencionei, melhor não
bombardear ninguém), tem muito a ver com o quanto você se valoriza e acredita
no que faz. E no quanto acredita que, cedo ou tarde, vai alcançar várias
pessoas com sua arte. (Independentemente do fato de hoje te acharem meio
chatinho, ou pouco blasé - e ser blasé, para alguns, é fator dos mais
importantes...).
Tudo, no final, acaba sendo
uma questão de fé, e esta é mais uma delas, penso.
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