Sempre
sonhei em ser cantora.
É
verdade que também já quis ser mecânica de moto, faxineira dos meus pais
(adorava arrumar e limpar a casa!), escritora, atriz, estilista... Um bando de
coisas. Mas, cantar, desde muito cedinho eu fazia.
Por
volta dos quatro anos de idade, pegava um hidrocor, fazia de microfone e ficava
cantando músicas sobre comida para a minha mãe, aquela santa, que dava a maior
força, sorrindo e motivando a continuar "compondo" e cantando sobre
bolos de chocolate e outras delícias.
Mesmo
quando mudei momentaneamente o sonho musical e comecei a querer ser
guitarrista/baterista, aos 12 anos, o fato é que continuava querendo estar na
música, trabalhar com música. Queria estar no palco. Continuava querendo viver
este tipo de emoção, querendo me comunicar desta forma.
E
é muito engraçado perceber que hoje em dia eu vivo aquilo que sonhava na
infância/adolescência: faço shows, faço música, vivo neste universo.
Ano
passado estava cantando forrós em uma festa junina, feliz, e me peguei pensando
(e foi muito forte e emocionante esta percepção): "Estão me pagando para
fazer isso. Estão me pagando para eu fazer a coisa que mais me dá prazer. Estou
ganhando para me divertir e ser feliz."
É
engraçado você notar que um sonho seu se realizou e você talvez nem tenha
percebido, nem tenha feito alarde - ou, o que é muito ruim, nem tenha dado
valor.
Talvez
eu não tenha notado antes esta realidade pelo fato de que tudo foi acontecendo
de forma sutil, natural, aos poucos. Fui fazendo shows, me apresentando,
mostrando a cara, me refinando, e as coisas foram acontecendo. Hoje faço shows
em festas particulares, em praças públicas, em teatros, apresentações de uma
música só em festivais, faço shows em parceria, canto como convidada de outros
músicos, sou backing vocal. Faço shows do meu trabalho solo. Faço shows só de
forró, ou só de carimbó. E já fiz muitos e muitos shows de rock. Tudo isso
mostra que, de fato, há alguns anos que este meu sonho se tornou
realidade.
Parece
que às vezes sonhamos tanto, mas tanto, que não imaginamos aquilo se concretizando.
O sonho fica lá, estritamente no lugar do sonho. E a realidade ali, só querendo
tirar aquele devaneio das nuvens e levá-lo até a vida, ao dia a dia. O
problema é que muitas vezes temos medo daquilo que mais amamos, temos medo de
que o nosso maior sonho aconteça. É o famoso "medo de ser feliz" -
expressão que eu, quando criança, não conseguia entender, mas hoje em dia,
lamentavelmente, entendo. Sim, a possibilidade de concretizar grandes coisas dá
medo.
E
estas coisas, tão grandes, se tornaram parte de minha vida, e parecem (só
parecem) não tão grandes porque se naturalizaram. Mas creio que é muito
importante que eu entenda o quanto são enormes. O quanto realizei. O quão
incrível é eu ter conseguido me firmar como cantora - mesmo que eu tenha um trabalho
paralelo, mesmo que eu não tenha sucesso midiático, mesmo que eu ainda almeje
muito mais. Mas o fato é este: sou cantora, algo que sempre quis ser.
É
claro que este sonho vez ou outra foi deixado de lado, por cansaço, por falta
de coragem. Há relativamente pouco tempo, uns dois anos, me vi cogitando deixar
isso para lá e parar de lutar para ser feliz, pensando no possível alívio
inicial que eu sentiria ao abandonar esta empreitada, tão cansativa. É que ter
coragem cansa. Lutar pela felicidade cansa. Melhor aceitar a infelicidade,
mesmo, e descansar. Só que não, né?
(Digo
vez ou outra isso: sempre pensamos no medo de tentar e não conseguir. Temos
medo de um possível fracasso depois de tanta luta. Temos medo de não
aguentarmos o baque de um possível insucesso. Daí, não fazemos. Mas o engraçado
é: não temos medo de uma vida inteira desiludida, não temos medo de sentir uma
frustração perene. E o fato é que a tristeza do fracasso momentâneo sempre dá
frutos, mesmo que a gente pense que não - o "menor" destes frutos é a
experiência.)
Mas,
felizmente, não deixei para lá, e nem vou deixar. Isso não impede que eu faça
outras coisas, também, é claro, pois tenho vários interesses. Mas devo
confessar que andei saindo do armário pra valer, assumindo que aquilo que mais
amo, dentre todos os meus interesses, é isso mesmo: cantar, fazer música. Isso
me pegou desde criancinha, e não foi à toa. Sempre foi uma paixão. Já dizia Tim
Maia: "Paixão antiga sempre mexe com a gente..."
O
interessante é que minha vida de cantora, que me completa, me inspira e que,
aliás, me faz querer criar estes textos, é uma vida incrível e ao mesmo tempo
simples, como disse. Não escrevi este texto dizendo que "meu sonho se
tornou realidade" porque assinei contrato com uma gravadora, ou porque fui
chamada para cantar com um figurão da MPB. Nada disso. Escrevi este texto
dizendo isso porque há um ano, em uma festa junina, percebi que aquilo que faço com mais
facilidade/prazer/alegria é simplesmente aquilo que, dentre todas as coisas que
faço, dá mais prazer e alegria a outras pessoas.
As
pessoas querem que eu cante! Tenho certeza que a menina de quatro anos de idade acharia isso um presente
especial demais para não ser valorizado. E eu, aos 32, percebo que só posso concordar com ela.
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