sábado, 12 de setembro de 2015

Não há outra saída

Certa vez, conversando com um colega, eu disse que estava feliz com a perspectiva de lançamento do meu CD (que só aconteceria um ano depois desta conversa), e disse, também, que sabia que hoje em dia a música se espalha mais facilmente, chegando a muito mais pessoas pela internet, através de downloads etc. Usei o exemplo de um amigo – grande músico, que, além de sê-lo, é filho de outro grande músico – cujo CD, disponível na internet, teve mais de 10.000 downloads. Daí ouvi o seguinte comentário, como réplica: “É, mas você não é o fulano, nem é filho do sicrano.” Ou seja: eu deveria tirar o cavalinho da chuva e entender que provavelmente eu não teria o alcance que o amigo músico teve. Melhor morrer de véspera, logo.
O que aconteceu? Meu CD saiu, lindo, em um show lotado no Sergio Porto (detalhe: foi o dia mais feliz de minha vida até então). Desde este dia (o dia do show foi o dia que o CD chegou de fábrica), o filhote me trouxe muitos momentos bonitos, de depoimentos de amigos e pessoas que compraram o CD pela internet. E, antes do show, o próprio processo de pensar e fazer o Temperos foi minha empreitada mais importante, até hoje. Amadureci muito no estúdio, amadureci muito com as consequências de tudo o que aconteceu depois. Artistas que admiro admiraram meu trabalho, coisas que valem ouro aconteceram graças a esta decisão de gravar meu primeiro disco solo. E será que algum número de downloads consegue expressar tudo isso que vivi? Acho difícil, visto que nem eu consigo mensurar o tamanho de tudo o que aconteceu.  
Estas contabilidades - downloads, curtidas, números de plays no SoundCloud etc. - me interessam, sim, porém menos do que outras análises. Prefiro observar, por exemplo, o que fiz hoje pela minha carreira (conselho da querida Elisa Fernandes). Prefiro analisar se estou melhor, profissional e tecnicamente, do que estava há tempos. Se estou com medo de dar algum passo. Se estou querendo fazer algo por ego ou por real vontade. Se não quero fazer algo porque não vale a pena ou por pura preguiça, mesmo.  
O que quero dizer é: acho que tenho muito. E é claro que quero ainda mais. Quero gravar mais, chegar a muito mais pessoas, quero experimentar muito mais. Meu alcance ainda é bem menor do que o alcance que espero ter, com o tempo. Porém, tudo o que tenho alcançado, cada pequena vitória, eu sei que é, na verdade, mais uma peça que vai se encaixando em meu trabalho, coisas que vão fazendo com que a cada dia eu me fortaleça mais. Nem tudo são flores, e, infelizmente, ainda me pego desanimada vez ou outra, mas sempre que percebo tudo o que tenho e tudo o que consegui, me animo e vejo que não há outra possibilidade senão seguir em frente, para conquistar ainda mais coisas, colecionar mais momentos felizes, histórias gostosas de se viver.
Vez ou outra me lembro – e se me lembrasse sempre seria ótimo – de algo que disse Dalai Lama no livro Uma ética para o novo milênio: “Como o banqueiro que recolhe os juros até do menor empréstimo que faz, temos de levar em conta até o mais insignificante aspecto positivo de nossas vidas.” É preciso pensar que o que tenho é muito para uma pessoa que tantas vezes duvidou de si. Pois conto, hoje, com parceiros tão bons, pessoas que me ajudam tanto, que querem estar do meu lado, que sentem felicidade em fazer música comigo, e eu com elas... E pessoas que querem fazer outros tipos de parceria comigo, para que possamos nos ajudar mutuamente, trocando serviços, unindo as forças. Isso é um grande motivo para ser grata: vejo claramente a credibilidade que tem meu trabalho. Taí uma conquista tamanho GG.
 E tem aí muito mais por vir. Não estou falando de ganhar prêmios, de assinar contratos, nem de grana. Falo de ação, de vivências. Canções que farei, sozinha ou com parceiros, shows que realizarei com outros cantores, ou shows de meu trabalho solo, momentos marcantes que viverei nessa eterna descoberta que é falar através da arte. Acontecerão sempre que eu me entregar e acreditar, sabendo que não há outra opção (ou, ao menos, não outra que me faça sentir tão feliz). Pode ser que hoje mesmo, quando eu pegar meu violão, algo bonito aconteça. Pode ser que, ao sair para a ver a peça de meus amigos, eu veja algo que me inspire e daí surja mais uma canção. Agora, amanhã, sempre, a todo momento, podem vir mais pecinhas que se juntarão em minha música e farão de mim alguém ainda mais conectado consigo e com o mundo. Pensar nisso tudo evidencia o privilégio que é viver neste universo de melodias, letras, ritmos e harmonias. 
Embora eu ame muitas coisas, muitas artes e muitos ofícios, eu sei de uma coisa: não há outra saída para mim que não seja extravasando minha musicalidade. Se as coisas estiverem indo bem, se estiverem indo mais ou menos, se estiverem bem abaixo do que eu esperava, não importa. É isso o que tem que ser feito, e ponto. 

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