domingo, 17 de abril de 2016

Ecad, melhora isso aí

Estes dias entendi porque o Ecad é tão malquisto, e resolvi contar o causo que me levou a esta compreensão.
Já adianto que no final dá tudo certo, e que esta nem é lá uma grande história. Mas que é um bom exemplo de um modus operandi estranho, isso é. E por isso acho até que tenho a obrigação de escrever sobre.
Usarei nomes inventados para contar a história.
Bem, o lance é o seguinte: eu estava fazendo a produção de um show em parceria com um amigo, em um teatro muito bacana, um espaço que adoro. Fomos contemplados com duas datas, através do edital da instituição. Porém, tratava-se de um edital sem financiamento, onde a instituição apenas disponibiliza o espaço.
Digo isso apenas para que fique claro que aquele show pedia uma boa dedicação para que, além de bonito, fosse autossustentável (sem prejuízos). Nós, músicos, trabalhamos muito: ensaiando; pensando em revezamentos entre nós para não precisarmos de bilheteiro; pedindo ajuda ao técnico de som da casa, visto que não poderíamos contratar um; divulgando via internet e fazendo assessoria com jornais; conseguindo equipamento emprestado com um amigo; conseguindo carona com este mesmo amigo-santo para transportar os amplificadores; e mais um bando de detalhes.
Um destes detalhes era o Ecad, que eu precisava resolver.
No dia 23 de março enviei um e-mail ao órgão:

Olá Giulianne,
Dia 5 de abril farei um show no ---- com o músico ----. Gostaríamos de acertar com o Ecad em um contrato pós-borderô (visto que é a forma mais econômica para nós, músicos independentes).
Como proceder? Envio por aqui mesmo a lista do repertório?
Grata,
Guidi

Eu havia enviado o e-mail me dirigindo à Giulianne, pois havia sido ela a pessoa que me atendeu em relação a um show que fiz em 2013, no mesmo espaço. Mas quem respondeu ao meu e-mail, neste mesmo dia (23 de março), foi a funcionária Rizoflora, que me enviou dois formulários para preenchimento: Coleta de Dados para Execução Pública Musical + Roteiro Musical.
Demorei uma semana para enviar os dois formulários, visto que ainda estávamos ensaiando e decidindo o repertório. Assim que decidimos enviei os dois arquivos por e-mail, no dia 1º de abril. Logo recebi resposta (mesmo dia) dizendo que os arquivos não vieram anexados (eita! Falha nossa), e os reenviei prontamente, poucas horas depois.
Fiquei no aguardo. Até o dia 04/04 eu não havia recebido resposta, e era véspera do show. E sem que eu estivesse com a questão do Ecad resolvida, o teatro não poderia permitir que o show acontecesse. Liguei para o Ecad para saber do meu caso, e consegui falar com Rizoflora. Ela disse que responderia no mesmo dia o meu e-mail. Perguntei: “Mesmo? O show é amanhã.” “Sim, amor”, respondeu ela.
No mesmo dia recebi o e-mail dela, com a notícia:

Boa tarde, Guidi!
O valor do recolhimento autoral, do evento ----, que ocorrerá no dia 05/04/2016, no ---- é de R$ 216,00.
No aguardo.            
Rizoflora

Fiquei assustada com este valor (que comeria boa parte de nossa bilheteria) e repliquei, alegando que já havia alertado sobre nossa preferência pelo pós-borderô:

Olá Rizoflora,
Sempre opto, como optei desta vez (e já havia notificado a vocês via e-mail, há 12 dias), pela opção pós-borderô.
Fico no aguardo de mais explanações, obrigada.
Guidi

A resposta foi impressionante:

Boa tarde, Guidi!
Trocamos e-mail no dia 23/03/2016 e em nenhum momento isso ficou acordado entre nós, ate porque para a entrega de borderô posterior ao evento é necessário fazermos o termo de garantia mínima, o qual você paga 30% antecipado e o complemento se houver uma receita maior do que o cobrado antecipadamente. No dia 01/04/2016, que recebemos seus formulários preenchidos, os quais hoje estou dando tratativa. Contudo, o máximo que podemos fazer, uma vez que o show é amanha é lhe conceder um desconto, o valor autoral fica em R$ 172,80.
No aguardo.
Rizoflora

E lá fui mostrar que sim, eu havia avisado sobre o pós-borderô:

Olá Rizoflora,
No e-mail abaixo (enviado dia 23/03) eu digo claramente:
"Gostaríamos de acertar com o Ecad em um contrato pós-borderô (visto que é a forma mais econômica para nós, músicos independentes)."
Por favor, leia abaixo [o e-mail na íntegra estava encaminhado].
Apesar de achar que eu estava falando com Giulianne (pessoa que me atendeu em 2013), você foi a pessoa quem respondeu a este mesmo e-mail, e foi por este e-mail que continuamos o diálogo.
Obrigada,
Guidi

Depois disso a situação melhorou:

Boa tarde, Guidi!
Você pode apresentar o borderô após sem problemas, mas será necessário fazermos a Garantia mínima. O valor do termo fica em R$ 64,80 . Por gentileza nos encaminhar os documentos abaixo:
- CPF
- RG
- Comprovante de Residência.
Atenciosamente,
Rizoflora

Enviei os documentos escaneados e neste mesmo e-mail perguntei, apenas: “Qual o próximo passo?”. Rizoflora respondeu:

Boa tarde, Guidi!
Configurarei o termo e lhe encaminharei para imprimir duas vias, rubricar as três primeira paginas e assinar a última, entregará aos meus cuidados no endereço abaixo, onde fará a retirada do boleto da Garantia e após a apresentação do evento nos encaminhará o borderô para analisarmos.
 End: Avenida Almirante Barroso, nº 22 - Centro/RJ.
 Ok?
Atenciosamente,
Rizoflora

Já eram 16h28, o Ecad deveria fechar entre 17h e 18h. Perguntei:

Olá Rizoflora,
Hoje eu poderia ir até que horas ao Ecad?
E amanhã? A partir de que horas e até que horas posso ir ao Ecad?
Apesar de ser pior amanhã (visto que é o dia do show), creio que seja o mais provável.
Obrigada

A resposta:

Boa tarde, Ingrid!              
Segue em anexo o termo [de Responsabilidade], trabalhamos de 9h às 18h.

Após receber este e-mail, decidi que resolveria a questão no dia seguinte. Pedi a meu namorado que fizesse isso por mim, e exatamente pensando nesta possibilidade foi que sublinhei no e-mail a pergunta sobre os horários: não queria que ele, que nada tinha a ver com aquele assunto, se deslocasse até o Ecad e desse com a cara na porta ou não encontrasse Rizoflora. Eu não poderia ir porque tinha uma prova às 10h, e da prova iria pegar os amplificadores para o show, e então seguiria para a passagem de som (e foi assim que aconteceu: saí da prova, peguei os   amplificadores no Flamengo e na Lapa, com a carona do amigo que emprestou os equipamentos, e fui para o teatro. Absolutamente nenhuma brecha de tempo).              
No dia seguinte, chegando ao teatro, meu namorado me encontrou por lá e me contou: Rizoflora não estava no Ecad no momento em que ele foi até lá (bem como imaginei que poderia acontecer) e foi dito a ele por outra funcionária que não havia nenhum responsável ali que pudesse assinar o Termo de Responsabilidade. Esta funcionária disse que não haveria problema, pois eles enviariam o termo assinado por e-mail, e já que o principal eles podiam fazer, que era emitir o boleto para que o mesmo fosse pago e o show fosse liberado. Ele seguiu para o banco, fez o pagamento e me encontrou no teatro.              
Apesar de toda esta correria bem no dia do show, a apresentação rolou muito bem. Foi bem cansativo, ficamos nos revezando na passagem de som para cumprir com as necessidades da produção, mas contamos com a colaboração de muitas pessoas também na bilheteria (inclusive pessoas que iam se apresentar como convidadas no dia), e o namorado ficou na entrada do teatro e na venda dos CDs. Deu tudo certo. Não tivemos prejuízo, reembolsamos a grana do Ecad para o namorado, tudo bonito.                  
Eis que uma semana depois, dia 12 de abril, recebo o seguinte e-mail:

Boa tarde, Prezados!
Até a presente data não recebemos o borderô, referente ao evento do dia 05/04/2016. Sem o mesmo até o fim do dia, emitiremos em cima da capacidade do local.
 No aguardo.
Atenciosamente,
Rizoflora

É verdade! Eu precisava enviar o borderô assinado por mim e pelo teatro. Havia ficado tão extenuada com a produção do show (e principalmente com esta história do Ecad) que me esquecera do compromisso pós-show. Mas preciso dizer que achei esta forma de lembrete bastante ruim. Quase uma ameaça, não? Afinal, teríamos que simplesmente pagar aquele valor inviável para nós (R$ 216,00) se eu não tivesse acessado meu e-mail, se eu tivesse passado o dia fora de casa, se eu estivesse sem internet.
Fiquei impressionada com a falta de jeito do Ecad para lidar com o artista/produtor/casa de show etc. Só respondendo meu e-mail quando liguei para pedir que o fizessem, na véspera do show. Dizendo que eu não havia falado nada sobre o pós-borderô, sendo que eu havia falado. Dizendo que eu poderia ir lá entre 9h e 18h, e isso não era verdade (visto que meu namorado foi até lá às 12h30, aproximadamente, e saiu sem o Termo assinado, apenas com o boleto). Dizendo que teríamos que pagar a porcentagem do Ecad calculada em cima da casa cheia (como se o teatro tivesse vendido todos os ingressos), caso não enviássemos até o fim daquele mesmo dia o borderô.
Felizmente eu estava em casa e enviei o borderô na mesma hora. Recebi a confirmação de Rizoflora de que estava tudo ok.
Se de fato eu não tivesse visto aquele e-mail e me fosse cobrado o valor de R$ 216,00, acho que infelizmente eu chegaria a meu limite e faria um escarcéu. Seria a gota d’água, depois de uma produção extenuante e um atendimento bem ruim por parte deles, ter que dar um dinheiro que eu não tinha para uma instituição visivelmente desorganizada (não vou nem entrar em outras questões relativas ao Ecad, bem mais espinhosas – todos sabem quais são!). Mas que bom que não foi preciso.
Ah, não que eu faça questão, mas até hoje não recebi o Termo de Responsabilidade assinado. Nem pedi isso, mas é engraçado ver como o Ecad é exigente com o artista, mas talvez não seja assim tão exigente consigo e nem se preocupe tanto em cumprir com todas as suas obrigações.